quarta-feira, 29 de setembro de 2021

 O Homem que Escapou da Cruz (As Trevas e o Amanhecer - Charles R. Swindoll)



Embora nunca apareça como personagem principal, Barrabás desempenha um importante papel nos bastidores. Ele jamais poderia imaginar que um dia seu nome seria citado nas Escrituras! Mas, no sexto julgamento de Jesus, lá está ele, no texto sagrado das Escrituras: Barrabás... Tendo sido julgado e condenado à morte, sua cela, muito provavelmente localizava-se na fortaleza de Antonia, na cidade de Jerusalém. De lá, é bem provável que Barrabás pudesse ouvir a multidão gritando pelo sangue de Jesus. Ele não conseguia decifrar cada palavra ou som, mas podia ouvir a multidão gritando freneticamente para pressionar Pilatos: “Barrabás! Barrabás. Dá-nos Barrabás!”, eles bradavam.
Barrabás ouviu seu nome, mas o que ele ouviu a seguir deixou-o arrepiado até os ossos: “Crucifica-o!” Ele sabia que em breve estaria a caminho da cruz.
Em sua mente, ele sabia que não Havia nada pior que a morte por crucificação. Aquele seria o fim da linha, e um fim torturante. Não queria nem pensar nos pregos atravessando sua carne. Se tivesse sorte, morreria logo. Todos que eram pendurados em uma cruz ansiavam por uma morte rápida.
Mas para Barrabás, sua vida não terminou na cruz. O carcereiro que abriu sua cela não o conduziu ao local da execução. Em vez disso, ele o libertou!
Você não fica curioso para saber o que aconteceu a Barrabás depois que foi liberto? Depois de ter descoberto que um homem inocente havia morrido em seu lugar? Você não gostaria de saber o que ele fez no resto de sua vida?
Será que ele continuou em seus maus caminhos, conseguindo de alguma forma escapar da punição? Será que ele foi preso mais tarde por outro crime ou, talvez, tenha sido morto em algum tumulto? Ou será que ele acabou se tornando um seguidor daquele que tinha morrido em seu lugar? Será que ele estava, como diz a tradição popular, entre a multidão aos pés da cruz, assistindo a morte de Jesus?
Se algum homem neste planeta soube literalmente o que significa Jesus ter tomado a sua cruz e morrido em seu lugar, esse homem foi Barrabás. E, por mais estranho que pareça, se existe uma pessoa com a qual cada um de nós pode se identificar, essa pessoa é Barrabás.
Se nos fosse pedido para descrever Barrabás, poderíamos fazê-lo em uma frase: ele foi o homem liberto no lugar de Jesus. Mas, há muito mais nessa história do que simplesmente isso.
Para examinar essa história, precisamos entender um pouco sobre a cultura e tradição nos dias de Jesus. Segundo os relatos de Mateus e Marcos, durante a Páscoa, o governador normalmente soltava um prisioneiro escolhido pelo povo. Embora ninguém saiba ao certo como se iniciou esse costume, sabemos que ele estava claramente em vigor na época dos julgamentos de Jesus.
“Por ocasião da festa era costume do governador soltar um prisioneiro escolhido pela multidão.” - Mateus 27:15
“Por ocasião da festa, era costume soltar um prisioneiro que o povo pedisse. Um homem chamado Barrabás estava na prisão com os rebeldes que haviam cometido assassinato durante uma rebelião. A multidão chegou e pediu Pilatos que lhe fizesse o que costumava fazer.” – Marcos 15:6-8
Aparentemente, o povo judeu costumava procurar o governador e pedir: “Estamos na época da Páscoa, por isso, solicitamos a você que solte Aristóbulo”. Então, sem levar em consideração o que ele tinha feito, ou do que era acusado, Aristóbulo seria solto da prisão, e colocado em total liberdade.
Na maioria das vezes, sem dúvida esse costume era um estorvo para Pilatos, o anti-semita, o cruel governador da Judéia. Mas, desta vez ele recebeu com prazer o pedido para cumprir esse costume, suspirando aliviado. Pilatos sabia que o líderes judeus tinham inventado acusações contra Jesus porque tinham inveja de sua influência sobre o povo. Mas sabia também que se não cooperasse com eles, provocaria uma rebelião. Pilatos temia que isso acontecesse, outro relatório ruim sobre seu governo chegaria a Roma, e ele perderia seu cargo de governador.
O segundo dilema que o perturbava era o fato dele nunca ter acreditado que Jesus fosse realmente culpado. De todos os juízes perante os quais Jesus compareceu naquelas horas finais de julgamento, Pilatos foi o único que “deu” a Ele uma oportunidade de declara-se inocente.
Pilatos procurou se inteirar dos fatos, e quando percebeu o que estava acontecendo, não hesitou em dizer: “Ele é inocente!” Quando os judeus não aceitaram seu julgamento, Pilatos, que por alguma razão estava temeroso de condenar aquele homem inocente, lavou suas mãos sobre o assunto e permitiu que Jesus fosse crucificado.
O erudito inglês James Stalker escreveu um excelente livro sobre os julgamentos e a morte de Jesus, onde faz uma análise sucinta desses fatos. Referindo-se à escolha de Pilatos por Barrabás, ele escreveu: “O que ele pensava ser uma saída para o dilema que enfrentava era, na verdade, uma cilada, na qual ele caiu de cabeça”.
Mas a questão permanece: por que, de todos os prisioneiros que estavam confinados nas celas romanas, Pilatos escolheu Barrabás? Por que ele não escolheu um dos ladrões marcados para serem crucificados naquele dia... aqueles que, mais tarde, seriam crucificados ao lado de Jesus? Por que Pilatos ofereceu libertar um homem com uma ficha criminal tão suja como a de Barrabás?

Seu nome (Barrabás) “Eles tinham, naquela ocasião, um prisioneiro muito conhecido, chamado Barrabás.” – Mateus 27:16 A expressão traduzida como “muito conhecido” vem de (episemown), que significa “marcar”. Tomando emprestado o significado do termo grego, Barrabás era um homem marcado. Como diríamos hoje em dia, ele era o “inimigo público número um”. Ele não era simplesmente um encrenqueiro, nem mais um rebelde que agitava o povo, causando perturbação em toda Judéia. Ele não era um ladrãozinho barato, que ficava batendo carteira nas ruas lotadas de Jerusalém. Barrabás era um assassino, um matador insensível. Uma pessoa notável. Seu próprio nome tem esse significável. Note que ele é chamado de “Bar-abbas”, um nome aramaico. Aramaico era a língua falada naqueles dias, a língua falada por Jesus e por seus discípulos. Mas este não era um nome aramaico comum. Como podemos observar, ele pode ser facilmente dividido em duas partes: “Bar” e “abbas”. Quando Jesus dirigiu-se a Pedro em certa ocasião, Ele o chamou de “Simão Barjonas”. Simão era o nome que fora dado a ele, e Barjonas, seu nome de família. Nosso nome de família é representado pelo nosso sobrenome. Nossos filhos recebem cada um deles um nome diferente, mas o sobrenome de todos é o mesmo. Ou seja, o sobrenome é o nome que eles recebem da família. Nos dias bíblicos, os filhos também recebiam o nome de seus pais. “Bar” significa “filho”, então, Simão Barjonas significa – “Simão, filho de Jonas”. Não somos informados de qual seria o primeiro nome de Barrabás. Conhecemos apenas seu nome de família: Bar-abbas, que significa “filho de abbas”. E aqui está a parte intrigante disto: “Abbas” ou “abba” significa “pai”, então, Bar-abbas significaria “filho do pai”. Mas isto não faz sentido. É óbvio que ele é filho de seu pai. Mas existe mais. O comentarista William Barclay observa que o nome “pode ser composto de Bar-Raban, que significaria “filho do Rabi”. Assim, talvez isto significasse que Bar-abbas era filho de um rabino famoso, ou ao menos de alguém bastante popular. Nesse caso, suas atividades criminais teriam sido ainda mais notórias. Isto é mais que uma mera lenda ou suposição. O historiador judeu Josefo concorda com Mateus, declarando que Barrabás era um criminoso notório antes de ser capturado. Possivelmente ele não era famoso apenas por seus crimes atrozes, mas também pelo fato de sua família ser bem conhecida na região. O pavimento Daí em diante Pilatos procurou libertar Jesus, mas os judeus gritavam: “Se deixares esse homem livre, não és amigo de César. Quem se diz rei opõe-se a César”. Ao ouvis isso, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se na cadeia de juiz, num lugar conhecido como Pavimento de Pedra (que em aramaico é Gábata) – João 19:12-13 Este é o sexto e último julgamento de Jesus, e durante este julgamento Pilatos levou Jesus para fora, para um lugar chamado “Pavimento”, que em aramaico é Gábata, significado “mosaico” ou “pedra”. Era uma área elevada, calçada com pedras ou mosaicos, situada fora do palácio ou fortaleza, onde Pilatos costumava ficar para presidir julgamentos, decidir questões e dispensar outras ordens. Foi a este local que Pilatos levou Jesus para interrogá-lo e finalmente entregá-lo à multidão que o aguardava ansiosa. Lembre-se, os líderes judeus não iriam à residência de Pilatos, porque não queriam se contaminar na época da Páscoa. Qual a localização deste lugar em relação ao local onde Barrabás estava preso? Qual seria a distância entre eles? A distância entre a fortaleza e o palácio era de aproximadamente seiscentos metros. Desta distância, Barrabás certamente podia ouvir o barulho da multidão irada. E é exatamente neste ponto que a história fica muito interessante. Imagine a cena: Barrabás preso em uma cela fria na fortaleza de Antonia, aguardando a execução. Como já mencionei anteriormente, creio que a terceira cruz era destinada a Barrabás. Provavelmente ele esperava ser executado naquele mesmo dia. Barrabás estava com medo; andava de um lado a outro de sua cela, nervoso. De repente, ele ouviu, à distância, o som de uma multidão irada. Será que seus companheiros zelotes estavam se amotinando? Estariam eles derrotando os guardas romanos e vindo para resgatá-lo? Ele esperava desesperadamente que isso realmente estivesse acontecendo. De repente, ele ouviu seu nome. “Barrabás... Barrabás!” “Então perguntou o governador: “Qual dos dois vocês querem que eu lhes solte?” Responderam eles: “Barrabás!” – Mateus 27:21 “A uma só voz gritaram: “Acaba com ele! Solta-nos Barrabás!” – Lucas 23:18 “Eles, em resposta, gritaram: “Não, ele não! Queremos Barrabás!” Ora, Barrabás era um bandido.” – João 18:40 A seiscentos metros de distância Barrabás podia ouvir a multidão gritando seu nome. E o que ele ouviu depois? Confira o registro de Mateus. “Então perguntou o governador: “Qual dos dois vocês querem que eu lhes solte?” Responderam eles: “Barrabás!” Perguntou Pilatos: “Que farei então com Jesus, chamado Cristo?” Todos responderam: “Crucifica-o!” - Mateus 27: 21,22 O coração de Barrabás começou a bater forte. Aquela não era uma multidão de zelotes judeus vindo libertá-lo. Era uma multidão pedindo um linchamento. Pior que isso, exigindo uma crucificação. Ele não conseguia ouvir a solitária voz de Pilatos fazendo as perguntas. Tudo que ele podia ouvir era a multidão clamando freneticamente: “Barrabás!” e em seguida: “Crucifica-o!” De repente, ele ouviu os passos dos soldados, a batida proposital das botas no pavimento de pedra. Soldados marchando pelo corredor, indo em direção à sua cela. Eles estavam cada vez mais perto... Então um deles escancarou a porta e rosnou: “Saia daqui, Barrabás!”. Ele ficou gelado... Mas, em seguida ouviu: “Você está livre!”. Você pode imaginar o choque?... Barrabás estava esperando os soldados virem buscá-lo para ser crucificado e, de repente, era um homem livre! Um substituto pessoal Barrabás, mais do que qualquer outra pessoa nesse sombrio drama do Calvário, sabia que alguém iria substituí-lo naquela cruz do meio. A. T. Robertson escreveu: “Lá, entre dois ladrões e na mesma cruz em que Barrabás, o líder do bando, deveria ter sido crucificado, seu substituto morreu.” Barrabás esperava morrer naquele mesmo dia. Ele havia sido condenado e preso, e aguardava a morte por crucificação. E então, de repente, ele ouviu: “Você está livre”. Muitas lendas têm surgido em torno da figura de Barrabás. São apenas lendas, todavia... um pouco de santa imaginação não faz mal a ninguém. Tenho também algumas idéias sobre o assunto. Gosto de pensar que Barrabás permaneceu em Jerusalém naquele dia. Afinal de contas, ele tinha sido libertado. Em vez de fugir para os montes ou procurar por seus amigos em algum beco escuro, ele se juntou à multidão que se dirigia para fora do portão da cidade, ansioso para ver o homem que estava morrendo em seu lugar. Barrabás escapou da cruz porque um outro homem literalmente tomou seu lugar. Sua vida ilustra de maneira intensa a doutrina da expiação. Não podemos nos esquecer que Jesus foi nosso substituto também. Ele levou nossos pecados e sofreu a morte que nós merecíamos, da mesma forma que morreu a morte que Barrabás merecia. Ele foi pendurado em uma cruz no lugar de Barrabás, assim como foi pendurado na cruz em nosso lugar. Como Barrabás, nós estávamos mortos em nossas transgressões e pecados até que o corpo crucificado de Jesus derramasse o sangue da substituição. Como Barrabás, estávamos condenados à morte até Jesus ter tomado nosso lugar. Como Barrabás, fomos libertados, e essa liberdade é eterna. Posso compreender um pouco o que Barrabás deve ter sentido, porque entendo o que significa ser liberto da culpa e da condenação. Mas minha pergunta é: você entende? Você está sentado na fria pedra da masmorra do pecado? Você pode ouvir "alguém" dizendo a você: “Você está perdido. Você merece morrer. Sua vida o condena”. “Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.”- Isaías 53:6 Você consegue escutar a voz lhe dizendo: “Deus amou você tanto que deu seu único Filho, e se você acreditar nele, você nunca morrerá, mas terá a vida eterna”. Jesus fez muito mais do que pagar a pena no lugar de Barrabás. Através de sua morte sacrificial, Ele pagou de uma vez por todas, pelos pecados de toda a humanidade. Por Ele ter levado a cruz que nós merecíamos, podemos gozar de uma paz eterna e ter um lar no céu que não merecíamos.
#ParaRefletir💭